A moeda fiduciária é uma forma de dinheiro que não possui valor intrínseco e é estabelecida como meio legal de pagamento por decisão governamental, valendo sobretudo pela confiança que os utilizadores depositam na instituição emissora (geralmente um banco central) e pelo respaldo da autoridade legal do Estado. Ao invés da moeda-mercadoria (como o ouro ou a prata), a moeda fiduciária não tem garantia de nenhum ativo físico, assentando-se exclusivamente no crédito e na robustez económica do país emissor. Entre as principais moedas fiduciárias encontram-se o Dólar dos Estados Unidos, o Euro, o Iene Japonês e o Yuan Chinês. O dinheiro fiduciário assume um papel central nos sistemas financeiros modernos, servindo de base para as transações económicas do dia a dia, para a cobrança de impostos e para o comércio internacional.
Antes do surgimento das criptomoedas, as moedas fiduciárias eram predominantes no sistema financeiro global. O regime moderno de moeda fiduciária foi institucionalizado em 1971, quando os Estados Unidos aboliram o padrão ouro. A estabilidade do valor das moedas fiduciárias depende, sobretudo, da intervenção dos bancos centrais, que recorrem a instrumentos de política monetária, como a variação das taxas de juro, operações de mercado e gestão das reservas cambiais. Este modelo centralizado permite aos governos gerir as oscilações económicas, mas confere-lhes também controlo absoluto sobre a emissão monetária – precisamente o paradigma que criptomoedas como o Bitcoin procuram desafiar.
O impacto das moedas fiduciárias nos mercados financeiros internacionais é profundo. Por um lado, enquanto expressão da soberania económica, as principais moedas de reserva, como o Dólar dos Estados Unidos, possuem influência geopolítica relevante. Por outro, a quantidade de moeda fiduciária em circulação condiciona diretamente a situação económica do país; emissões excessivas podem gerar inflação, enquanto restrições monetárias podem precipitar recessão. No sector das criptomoedas, as moedas fiduciárias funcionam habitualmente como porta de entrada e saída: os investidores adquirem ativos digitais com moeda fiduciária e, posteriormente, reencaminham os resultados desses investimentos de novo para dinheiro fiduciário. Além disso, soluções como as stablecoins procuram conciliar a estabilidade relativa das moedas fiduciárias com a eficiência da tecnologia blockchain.
Apesar da sua primazia na economia mundial, as moedas fiduciárias apresentam riscos e desafios que não podem ser ignorados. Desde logo, o risco de inflação é uma das vulnerabilidades centrais, sobretudo em cenários de crise económica ou instabilidade política, nos quais os governos tendem a ampliar a oferta de moeda para resolver problemas orçamentais, provocando desvalorizações. Igualmente, o controlo centralizado expõe a riqueza dos cidadãos às decisões políticas, tais como restrições à circulação de capitais, imposição fiscal ou congelamento de ativos. Por outro lado, as transferências internacionais em moeda fiduciária enfrentam frequentemente custos elevados, lentidão nos pagamentos e procedimentos de conformidade complexos. Por fim, os sistemas bancários tradicionais excluem cerca de 1,7 mil milhões de adultos em todo o mundo por não terem conta bancária, limitando assim a sua participação na economia.
O futuro do ecossistema fiduciário está em plena transformação. O desenvolvimento das Moedas Digitais de Banco Central (CBDC) assinala a entrada das moedas fiduciárias na era digital, com iniciativas como o Yuan Digital na China e a e-Krona na Suécia a avançar rapidamente. Por outro lado, a inovação em open banking e fintech está a alterar o relacionamento entre bancos tradicionais e clientes, tornando o uso da moeda fiduciária mais conveniente e inclusivo. Estão também a emergir modelos de coexistência entre criptomoedas e moedas fiduciárias, com alguns países a começar a incorporar ativos como o Bitcoin como complementos do curso legal. Face às crescentes incertezas da economia global, prevê-se um sistema monetário mais diverso, onde coexistem moedas fiduciárias, moedas digitais e moedas indexadas a ativos.
Enquanto sustentáculo das economias modernas, as moedas fiduciárias deverão manter a sua primazia no futuro próximo. Não obstante, a evolução tecnológica e as mudanças sociais exigem constante adaptação e inovação do sistema fiduciário. O dinamismo das CBDC demonstra que as autoridades monetárias reconhecem a urgência da transformação digital. Paralelamente, a ascensão das criptomoedas está a levar as pessoas a repensar o conceito de dinheiro e o seu valor intrínseco. Seja qual for o caminho do sistema monetário global, a integração das moedas fiduciárias com novas tecnologias financeiras continuará a redesenhar o panorama económico internacional, lançando as bases para um sistema financeiro mais eficiente e inclusivo.
Partilhar